Restringir ou acabar com Google? O que está em jogo na ação de monopólio no EUA.

 

 

O Google, de propriedade da Alphabet Inc., perdeu o maior desafio antimonopólio que enfrentou neste segundo semestre nos Estados Unidos, quando um juiz determinou que a empresa monopolizava ilegalmente o mercado de buscas a seu favor. Agora, a empresa enfrenta a possibilidade de uma dissolução forçada do judiciário americano como resultado.

Os procuradores-gerais estaduais e o Departamento de Justiça dos EUA anunciaram que estão avaliando a possibilidade de pedir ao juiz Amit Mehta que ordene ao Google a venda de partes de seus negócios. Isso seria a maior dissolução forçada de uma empresa nos EUA desde o desmantelamento da AT&T em 1984. Mehta supervisionará um julgamento, agendado para abril de 2025, para discutir as soluções propostas para a monopolização ilegal.

O juiz Mehta, do Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito de Columbia, concluiu que os pagamentos de 26 bilhões de dólares feitos pelo Google a outras empresas para tornar seu mecanismo de busca a opção padrão em smartphones e navegadores de internet efetivamente impediram qualquer outro concorrente de ter sucesso no mercado. A decisão de Mehta veio após um julgamento de 10 semanas em 2023 – o primeiro sobre acusações de monopolização a colocar o governo federal contra uma empresa de tecnologia dos EUA em mais de duas décadas.

Este caso é uma das várias ações antimonopólio contra grandes empresas de tecnologia conduzidas pela administração do presidente Joe Biden, que fez da promoção da concorrência no comércio um ponto central de sua política econômica.

 

Qual foi o caso contra o Google?

O Departamento de Justiça e os procuradores-gerais de alguns estados da federação alegaram que o Google, cujo motor de busca domina quase 90% das consultas online, pagou bilhões de dólares para manter seu monopólio no mercado de buscas. Isso foi feito por meio de acordos com rivais tecnológicos, fabricantes de smartphones e fornecedores de serviços sem fio. Em troca de uma redução nas receitas de publicidade, essas empresas, incluindo a Apple Inc. e a Samsung Electronics Co., concordaram em definir o Google como a opção padrão em navegadores e dispositivos móveis. Os demandantes alegaram que esses acordos bloquearam pontos de acesso importantes, impedindo que mecanismos de busca rivais, como DuckDuckGo ou Bing, da Microsoft Corp., obtivessem o volume de dados necessário para melhorar seus produtos e desafiar o Google.


O juiz Mehta concluiu que o Google monopolizou ilegalmente o mercado de serviços de busca geral e publicidade de texto de busca – os anúncios que aparecem no topo da página de resultados de busca. “Os acordos de distribuição do Google excluem uma parte substancial do mercado geral de serviços de busca e prejudicam as oportunidades de concorrência dos rivais”, afirmou o juiz. Como resultado de seu monopólio, o Google conseguiu aumentar os preços da publicidade de texto sem restrições, concluiu ele.

 

O que acontece agora?

A decisão do juiz Mehta focou apenas em determinar se o Google violou as leis antimonopólio. O julgamento, marcado para abril, pretende se concentrar em como remediar a conduta ilegal do Google.

Em um documento de 9 de outubro, o Departamento de Justiça indicou que está considerando a possibilidade de propor a divisão do Google. A agência deverá apresentar uma proposta mais detalhada em 20 de novembro. O documento de 32 páginas apresenta uma estrutura de opções potenciais a serem consideradas pelo juiz, incluindo forçar o Google a vender o sistema operacional Android, a Google Play Store ou o navegador Chrome; exigir que o Google compartilhe mais dados com concorrentes; e proibir os contratos de exclusividade que estão no centro do caso.

O Departamento de Justiça também está considerando medidas para impedir que o Google use seu domínio nas buscas para obter uma vantagem injusta em produtos de inteligência artificial. A agência e os estados decidiram recomendar que o Google seja forçado a vender o Chrome se outros esforços para melhorar o mercado não forem bem-sucedidos, informou a Bloomberg. Eles planejam recomendar que o Google seja obrigado a licenciar seus dados e resultados de pesquisa para ajudar rivais e startups de IA, além de dar aos anunciantes mais informações e controle sobre onde seus anúncios aparecem. O navegador pode valer até US$ 20 bilhões.

 

O que o Google disse?

O Google anunciou que pretende recorrer da decisão do juiz Mehta. A empresa destacou que a decisão reconhece o Google como “o melhor motor de busca nos EUA” e atribui sua “qualidade de produto superior” aos investimentos em inovação.

Embora a empresa admita que paga para que seu motor de busca seja pré-instalado em smartphones e navegadores, ela argumenta que esses acordos são inofensivos, comparando-os aos acordos que empresas de cereais fazem com mercearias para obter espaço privilegiado nas prateleiras. Os representantes do Google reiteraram que a concorrência está a apenas “um clique de distância”.


O que são leis antimonopolio?

As leis americanas de antimonopólios visam proteger a concorrência no comércio. Nos EUA, não é ilegal ser grande e poderoso; alcançar uma posição de monopólio através de produtos superiores ou melhor gestão é visto como uma recompensa pelo sucesso no mercado. No entanto, é ilegal que um monopólio adote medidas predatórias para impedir rivais que possam ameaçar seu domínio. Qualquer tentativa de manter ilegalmente um monopólio é alvo das autoridades antitruste e pode resultar em penalidades ou numa separação forçada.

 

Quais outros casos de monopólios o Google enfrenta?

Em 2020, liderados pelo Texas, 16 estados e Porto Rico processaram o Google, alegando que a empresa monopoliza a tecnologia subjacente à publicidade online. Um julgamento foi agendado para março de 2025.

O Departamento de Justiça abriu um processo antimonopólio separado contra o Google em janeiro de 2023, focado em seu negócio de tecnologia de publicidade. O caso foi a julgamento em setembro de 2024, com os argumentos finais marcados para 25 de novembro.

Um júri federal concluiu que o Google tentou ilegalmente manter o monopólio sobre a distribuição de aplicativos por meio de sua loja Google Play em dispositivos móveis. Um juiz ordenou que a empresa suspendesse as restrições que impedem os desenvolvedores de criar mercados e sistemas de cobrança rivais que concorram com a Google Play Store. O Google planeja apelar.

Em julho de 2021, três dúzias de procuradores-gerais estaduais processaram o Google, alegando que a empresa abusou ilegalmente de seu poder sobre a venda e distribuição de aplicativos por meio da Google Play Store em dispositivos móveis. O Google provisoriamente resolveu o caso por US$ 700 milhões, mas um juiz federal ainda não aprovou o acordo devido a preocupações de que ele não resolva a conduta supostamente anticompetitiva.

 

Onde mais as práticas comerciais do Google estão sob escrutínio?

Principalmente na Europa. Desde 2010, quando a Comissão Europeia recebeu sua primeira queixa formal contra as práticas competitivas do Google, a empresa foi sancionada três vezes, totalizando mais de 8 bilhões de euros (8,6 bilhões de dólares). O Google continua a contestar essas multas, incluindo uma penalidade histórica de 4,34 bilhões de euros pela forma como utiliza seu sistema operacional móvel Android, nos tribunais. Em junho, a UE apresentou novas acusações contra o Google, acusando-o de favorecer seu negócio de tecnologia publicitária em detrimento de rivais adtech, anunciantes e editores online, e ordenou que a empresa alienasse toda a divisão.

Em março, a Lei dos Mercados Digitais da UE entrou em vigor para o Google e outros "gatekeepers" designados da economia online. De acordo com a lei, eles não poderão favorecer seus próprios serviços em detrimento dos de rivais em suas plataformas, serão proibidos de combinar dados pessoais de seus diferentes serviços e não poderão usar dados coletados de comerciantes terceirizados para competir contra eles. A Comissão Europeia, o braço executivo da UE, abriu uma investigação para verificar se o Google está cumprindo as novas regras em relação à sua loja de aplicativos e mecanismo de busca.

 

Quais outros casos antitruste a administração Biden perseguiu?

A administração Biden intensificou a repressão antimonopólio iniciada durante o governo de Donald Trump. Nos últimos meses da administração Trump, o Departamento de Justiça abriu o primeiro processo contra o Google, e a Comissão Federal de Comércio (FTC) processou o Facebook, acusando-o de manter ilegalmente um monopólio nas redes sociais pessoais, em parte através da aquisição dos rivais Instagram e WhatsApp. A FTC busca a dissolução da Meta Platforms Inc., controladora do Facebook.

Essas ações, continuadas pela administração Biden, são as maiores medidas antitruste contra gigantes da tecnologia desde que os EUA processaram a Microsoft na década de 1990, levando a um eventual acordo em que a empresa restringiu algumas práticas comerciais.

No ano passado, a FTC processou a Amazon.com Inc. por monopolizar os serviços do mercado online, degradando a qualidade para os compradores e cobrando preços excessivos dos vendedores. Em março, o Departamento de Justiça abriu uma ação contra a Apple por bloquear o acesso de rivais a recursos de hardware e software em seus dispositivos populares.


Por Roberto Marques 


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